Durante um ano, um grupo de artistas percorreu caminhos paralelos — próximos, por vezes cruzados — em torno de práticas fotográficas distintas. Cada um seguiu o seu próprio centro de gravidade: um tema, um lugar, uma obsessão, uma pergunta. A exposição Órbitas reúne os vestígios desses percursos: imagens que resultam de movimentos singulares, mas que partilham entre si uma inquietação comum — a de compreender a relação entre olhar e território, entre presença e imagem.
O título remete para um movimento constante, feito de aproximações e afastamentos, repetições e desvios. Como corpos celestes em rota própria, os artistas aqui reunidos gravitam em torno de realidades que os desafiam ou sustentam; e que deixam marcas, visuais, tanto pela fricção do atrito como pela vertigem da gravidade zero.
Entre os trabalhos, encontramos a abstração radical de um jardim doméstico — vislumbre e rumor de uma selva íntima inspirada pelo mundo alucinado de Bosch. Também o território liminar que envolve o aeroporto de Lisboa é percorrido com persistência e lirismo, revelando traços desconhecidos de uma paisagem familiar. Noutro trabalho, procura-se o impacto da natureza sobre o vernacular, como se esta insistisse em infiltrar-se nas fissuras do quotidiano, nas suas estórias.
Outro projeto acompanha o trajeto 720 da Carris, documentando tanto os passageiros como o tecido urbano que se revela ao longo do percurso — um gesto repetido, onde o banal se transforma em sequência sensível. Um diário visual registra, de forma íntima, o ano em que uma artista deixou de fumar: a transformação interior espelha-se em pequenos rituais e objetos do dia a dia, enquanto a obsessão por fotografar substitui o vício deixado para trás. Uma oficina de mármores é captada por outro olhar, onde a brutalidade do trabalho na pedra aparenta ser operada por um agente misterioso, num aceno à própria agência invisível do fotógrafo.
Por fim, uma série de imagens acompanha a procura da artista por uma ideia de refúgio. Seguindo o traçado de um curso de água, estabelece uma relação contemplativa e emocional com a paisagem natural, à procura de um lugar possível — físico ou simbólico — onde pousar o corpo e a atenção.
Órbitas propõe um espaço de leitura cruzada, onde cada série de imagens funciona como uma constelação própria, em diálogo por afinidade, tensão ou ressonância. A fotografia surge aqui como rasto de um movimento, eco de uma aproximação, documento de uma presença — visível ou não. Num tempo em que a velocidade e a dispersão tendem a apagar o gesto atento, esta exposição ensaia outro ritmo: orbital, contínuo, silencioso.
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A exposição apresenta os trabalhos de Teresa Júdice da Costa, Alexandra Cunha-Vaz, Miguel Fernandes Duarte, Rosário Oliveira, Austėja Ščiavinskaitė, Gonçalo C. Silva e João Xenico.
Pedro Alfacinha